fevereiro 19, 2007

Carnaval e compostura.

Carnaval, para mim, é só mais um feriado que cai na terça e aproveito para emendar a segunda. E ainda tem quarta, que teoricamente é dia útil a partir do meio-dia. Historicamente e religiosamente marca o início da quaresma - um período de penitência e meditação - que antecede a Páscoa. Isso explica o clima de liberou geral inerente aos festejos de Momo. Só que atualmente, como ninguém respeita a quaresma mesmo, não faz sentido liberar geral só no carnaval já que esse é o clima do resto do ano.
Mas existem pessoas que esperam o caranval o ano todo para fazer o que querem com a desculpa "Ah, mas é carnaval, são só quatro dias!". Tá, ok, são quatro dias de folia, mas por que não manter a atitude de festa, de inibição, de despreendimento o resto do ano? Pessoas que tem um comportamento imaculado o ano inteiro passam quatro dias flertando com a promiscuidade, machões e machistas que passam quatro dias de salto, maquiagem e uma calcinha enfiada na bunda desfilando de salto e andando com mais "graça" que as mulheres, só para ter alguns exemplos. O que faz pensar que as besteiras feitas nesses quatr dias de idolaria à Momo devam ser esquecidas, devam ser riscadas da biografia?
Na verdade eu fico com pena dessas pessoas, elas vivem uma mentira. Não uma mentira por quatro dias, mas uma mentira o resto do ano. Em quatro dias de festejos elas são o que realmente querem ser, nos outros dias estão fantasiadas, com máscaras, fingindo que vivem a vida que escolheram. É triste não ter coragem para assumir os erros e mudar de direção e ter apenas quatro dias para esquecer os fracassos, as escolhas erradas e a infelicidade que insite em nos rondar o ano todo.
Talvez seja isso que me incomode no carnaval, que sempre me incomodou no carnaval, a falta de máscaras, em um sentido figurado, para as pessoas serem o que são. Passo o ano todo convivendo com máscaras de felicidade escondendo rostos de agonia, e quando as máscaras refletem a verdadeira felicidade, essa felicidade tem dia e hora para acabar.
Não é a felicidade que me incomoda, é o prazo que ela tem para durar, é o contraste com o resto do ano. Talvez por isso eu não pule carnaval, prefiro não retirar (colocar?) minha mascara de felicidade, prefiro usar o mesmo rosto do resto do ano. É mais honesto comigo mesmo.