agosto 05, 2004

Testemunho.
Freqüentei a Igreja (Evangélica Congregacional) durante toda minha infância. Ou melhor, quase toda, porque sempre que tinha F1 (No tempo de Piquet e Senna) sempre arrumava um jeito de enrolar e ficar em casa.

Depois de um tempo decidi sair. De decidir sair até realmente sair foi um problema pois, como todos sabem e e eu concordo, criança e pré-adolescente não tem querer. Foi difícil convencer que eu queria sair ainda mais sem dizer o veradeiro motivo: não conseguia me integrar com o povinho de lá. Conversava e tal, mas na hora de uma reunião, um aniversário eu nunca era lembrado. E isso para uma pessoa na idade de 12, 13 anos faz muita diferença. Por outro lado, os meus colegas de fora da Igreja para qualquer coisa sempre me chamavam.

A impressão que eu tinha era que dentro da Igreja, onde era pregado o amor, eu era rejeitado, minha presença lá, quando era notada, incomodava os outros, enquanto que no Mundo (como os crentes dizem) minha presença era, no mínimo, notada sem incomodar ninguém. E, entre um lugar e outro, um lugar sem ter a mínima consideração e um lugar onde eu era até bem considerado, fiz a escolha mais lógica.

Os dois mundos, com preceitos tão paradoxais não eram compatíveis. Não são compatíveis. Me sentia mal me comportar de um jeito durante a semana, ir a Escola Domincal (domingo, claro) de manhã e de tarde ir para danceteria. Não se pode estar em dois mundos ao mesmo tempo.

Hoje algumas pessoas que encontro e ainda, como que por milagre (ou um mural com fotos de desaparecidos), se lembram de mim convidam e tal. E perguntam por que eu não volto. Fico sem graça e com pena de queimar os outros, de dizer que não volto pelos testemunhos que eu vejo. Não vou discutir nem exemplificar dogmas ou doutrinas religiosas, até porque todas têm como princípio a tolerância e o amor (ajuda, caridade...) ao próximo e isso é notoriamente conhecido.

É complicado ver pessoas que até ensinam em seminários, que formam pastores, demonstrarem toda a intolerância através do preconceito e, de repente, mudar de assunto fazendo convites para irmos a algumas celebrações, como se nada tivesse acontecido. Algo está errado. Pessoas que forçam a barra para se tornarem um padrão de moral e conduta não tendo a humildade para assumir um erro e usar ameaças mesquinhas de vingança quando esse erro é mostrado e provado. "Faça o que eu mas não o que eu faço" não deveria ser usado quando se quer demonstrar, por ações, uma mudança tão maravilhosa quanto eles apregoam que tiveram.