maio 20, 2005

Catarse e violência.
Quando eu era criança, entre seis e onze anos, era comum a brincadeira de polícia e ladrão com armas de brinquedo. De todos os meus colegas que brincavam, ora como políca, ora como ladrão, nenhum virou assassino psicopata.
Também lembro daquela época alguns adultos, principalmente os pedabobos, digo, pedagogos dizendo que ao brincar com armas a criança estaria dando vasão aos seus instintos violentos e, conseqüentemente, viraria um adulto violento. Com base nesse argumento, ridículo por sinal, foram diminuindo a venda de armas de brinquedo até que, eu acho, proibiram de vez. Segundo a teoria deles, se não existem brincadeiras violentas com armas, não existem crianças se tornando adultos violentos e a sociedade vive em paz.
O engraçado que o pessoal da minha idade, todos os que brincaram com armas e se transformaram e adultos violentos, cometem menos crimes, brigam menos do que esse pessoal com dez anos menos, que não tiveram brincadeiras violentas, nunca tiveram uma metralhadora ou um revólver de cowboy entre seus brinquedos. Estranho não estarmos vivendo numa paz utópica, não? O problema é que quanto mais se tira a "violência" de uma brincadeira infantil, mais chances essa criança tem de virar um adulto violento.
Somos violentos por natureza. Aceitar isso é o ponto de partida. As brincadeiras brutas (violentas seria um termo errado) das crianças, as brincadeiras de polícia e ladrão onde um mata o outro de mentirinha e o "morto" fica de fora até o jogo acabar e recomeçar servia de catarse para essa violência. Tendo despejado essa violência, física e mentalmente, em uma atividade que não tem conseqüências, o nível cai e o indivíduo terá mais controle em uma situação real.
Deixar uma criança com "brincadeiras educativas orientadas pedagogicamente" só formará uma sociedade com metade de psicopatas a outra metade de bichas, no sentido fresco do termo.