Rock in Rio: A Esperança
Não pude ir no Rock in Rio I pois era muito pirralho (9 anos, por favor, não façam as contas) e no Rock in Rio II pois era um duro. Ainda sou um duro, mas agora um pouco menos. Mesmo não tendo podido ir à essas edições do RiR lembro muito bem o efeito que ela teve no gosto musical do povão. O Rock, de repente, passou a ser moda.
Como tinha público, tínhamos duas ou três rádios no Rio especializadas em rock. Rock de verdade, não só pop disfarçado. Hoje, se temos uma de pop e uma de dance é muito, o resto se divide em evangélicas, pagode e funk. Não ouço rádio a anos por causa disso.
Mais do que só um fenômeno de rádio, o público passou a querer ver suas bandas preferidas ao vivo e, finalmente, o Brasil passou a entrar no mapa das turnês de diversas bandas.
Ouve um boom de novas bandas, de metal inclusive, onde as de maior renome foram Sepultura e Angra, sendo muito conhecidas e respeitadas no exterior e dividindo palco com ícones como Iron, Metallica, Motorhead, etc. Bandas de garagem também arrumaram lugares para suas apresentações e quase todo bairro tinha um barzinho com shows autorais, hoje só vemos covers. E covers de músicas com dez, quinze anos. Ninguém quer formar uma banda com material próprio pois não tem como divulgar.
Aproveitando ainda esse fenômeno de público Rio e São Paulo passaram a promover festivais anuais, sendo os dois maiores o Free Jazz Festival e o Hollywood Rock. O Free Jazz Festival, como o nome indica, era mais eclético, passeando pelo pop, rock, blues e o o Hollywood Rock realmente de Rock. Tanto Free quanto Hollywood eram marca de cigarros. Tinhámos, também, o Monster of Rock, mas esse só em São Paulo.
B. B. King, Jamiroquai, Smashing Pumpkins, White Zombie, RHCP (no auge), L7, Nirvana, Rolling Stones, Page & Plant, The Black Crowes e outros, muitas outros foram trazidos pra cá até que algum idiota achou que alguém começaria a fumar só para ver sua banda preferida num show desses. Ainda volto ao assunto. Tocaram em turnês Anthrax, Body Count, Pantera, Metallica, Oingo Boingo... Sempre com ingressos muito caros mas, mesmo assim, com excelentes públicos.
Com a proibição idiota de propaganda de cigarros em eventos culturais, veio o fim da maioria de festivais e o rock sumiu, mais uma vez, da atenção da mídia. Em seu lugar o Axé, Pagode, a excrescência do Funk Carioca e, mais recentemente, o Forró e Sertanejos Universitários (sic) viraram modinhas.
Nem é preciso dizer como isso acabou com o surgimento de novas bandas nacionais e as bandas mais experientes sobrevivem tocando seus hits de 20 anos atrás.
Com a quarta edição do Rock In Rio, de volta ao Rio, mesmo descaracterizado em nome do capital (Claudia Leite Rock? Rá!) ainda me dá uma pequena esperança. Com a economia um pouco mais forte, tenho a esperança que a resposta do público junto com o festival SWU - já na segunda edição em SP - faça o rock nacional renascer mais uma vez com a força que outora teve, com festivais e mais datas de bandas importantes no páis, e não datas únicas como vemos hoje, com o surgimento de bandas novas e de novos palcos para suas apresentações.
Por outro lado, tenho medo. Acho que se não for dessa vez, nunca mais vai.
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