Apenas Rotina.
Acostumado a ouvir barulho de coisas caindo seguido de uma reclamação ou um xingamento, apenas a pancada seca de algo se estatelando no chão chama a atenção dele. Segundos parecem horas até o entendimento e a premonição da cena o atingirem como uma locomotiva desgovernada fazer ele pular da cadeira como se catapultado por essa inércia.
Um nome, uma negativa nos lábios.
Alguns passos depois ele vê no chão dois pés, em paralelo, o coração não se decide se para ou explode, mais uns poucos passos e a cena é toda revelada. Um livro, a Bíblia, caída, um estojo parado longe e uma pessoa de lado, olhos fechados, sem responder a chamados, sem responder ao seu nome.
Com a calma de um profissional que ele não é se ajoelha ao lado, confere a respiração e levanta um rosto sem resistência para ficar mais ao alto que o corpo. Aos poucos a cabeça repousada em suas mãos vai se firmando, olhos piscam sem comando, mas em sincronia, o que o tranquiliza. Com calma e cuidado ele retira a mão de baixo do corpo, confere se o braço está ferido, torcido, quebrado. Não está.
Minutos passam com a lentidão de séculos.
Com paciência de um monge, ele começa a virá-la. Primeiro ajeita as pernas, depois a coloca sentada no chão. Algumas respostas físicas já são perceptíveis, mas ainda nenhuma palavra, nenhum sinal de compreensão. Um abraço carinhoso, mas firme, coloca os dois de pé e lentamente começam a andar. Olhos preocupados buscam hematomas e cortes, os pés, ainda sem firmeza, dão a certeza que nada foi quebrado.
Poucos passos depois ele a repousa na cama, desarrumada ainda, com a atenção dividida busca o encosto para manter a cabeça em uma posição mais alta e senta ao lado, observando, esperando, nada mais há de ser feito no momento.
Ele sabe que não dormirá bem, será uma noite de sono leve, vigilante e entrecortado. Ele sabe que é só mais um dia normal na sua vida.
Ele sabe que esse não foi o último susto.
0 Comments:
Postar um comentário
<< Home