janeiro 23, 2012

Surgimento do mp3 e a decadência da música mundial.

É um título polêmico para uma relação polêmica. O mp3, principal formato de música digital surgiu em 1991, mas só se popularizou com o Winamp em 1997. Após isso, com o compartilhamento via P2P, qualquer um com acesso a internet, em qualquer parte do mundo, teve acesso grátis a toda a obra já gravada. Coincidentemente, a década de 90 do século passado (é estranho falar em século passado...) foi a última década relevante musicalmente.
Eu não acredito em coincidências, acreditei menos ainda quando li esse contraponto do Duff McKagan (ex GNR) sobe o SOPA, foi só ligar os pontos.
Voltando um pouco no tempo, até os meados dos anos 90 para se conseguir um álbum novo nós tínhamos que comprá-lo e para compartilhar passávamos para as antigas fitas K7. No caminho oposto, tínhamos que achar alguém que tinha comprado para copiar esse álbum mas, mesmo assim, ele ocupava espaço, fitas embolavam, desgravavam, discos arranhavam. Quando chegou os CD´s e os gravadores de CD em seguida, pouco mudou. Cada CD cabia apenas um álbum. Hoje, um pendrive cabe mais música que meus vinis, K7s e CDs juntos.
Mesmo sendo possível copiar as músicas, era mais complicado, restrito a um grupo de amigos do dono do original e, principalmente, mais lento. Com isso, as vendas de discos não diminuíram tanto, as gravadoras lucravam e com isso moviam toda uma indústria de música. De lojas a estúdios de gravação de demos de bandas iniciantes. Com o lucro garantido pelos artistas mais famosos, as gravadoras arriscavam em artistas novos, os colocando em trilhas de novelas, rádios especializadas no estilo e turnèes conjuntas com artistas que garantiriam o lucro e a exposição. Sempre foi assim na história da música.
Aí surgiu o mp3 e o compartilhamento de arquivos. Pessoas com menos dinheiro pararam de comprar álbuns originais para buscar arquivos com a mesma qualidade de graça na internet. As gravadoras pararam de lucrar, muitas faliram assim como as lojas especializadas em venda de CDs. Quem perdeu com isso foi a música de qualidade, claro, que sempre é sacrificada em função da quantidade, no caso a música da massa que, em lugar nenhum do mundo, é boa.
Entendo eles e fica difícil tirar-lhes a razão. Com as vendas em queda, fica difícil querer apostar em algo que não se sabe se vai ser bem recebido. Isso é comprovado vendo que 90% das bandas mais novas não resistem ao segundo trabalho sem cair no ostracismo enquanto bandas com três, quatro décadas de história tem contratos milionários e "se recusam" a abandonar os palcos, mesmo sem lançarem trabalhos inéditos ou trabalhos com o mesmo nível de vinte anos atrás. Mas seus fãs compram material original, vão aos shows, garantem o retorno.
O que as gravadoras fizeram? Começaram a investir em fórmulas, em pesquisas de mercado. O que temos hoje são artistas pasteurizados, com cada "atitude" ensaiada e a naturalidade de uma flor de plástico.
Trágico.
O que Lady Gaga, Rihanna, Adele, Michel Teló e Kings of Leon tem igual: são crias de laboratório, não têm espontaneidade, não fazem nada diferente do que se espera que eles façam. As novas bandas de rock que surgem não duram, pois não inovam, não podem, apenas tentam sem sucesso copiar o que foi feito na década de 80. Se é para ouvir rock 80, eu ouço as originais, não cópias falsificadas. E as bandas dessa época estão voltando depois de um hiato de 20 anos, voltando e excursionando pelo mundo com shows cheios. Porque têm qualidade que a música hoje se recusa a ter.
Não, eu não tenho má vontade com artistas iniciantes, mas eu quero coisas novas, timbres novos, melodias novas, propostas novas. E boas. O que eu vejo é apenas mais do mesmo, copiando o que ha de melhor e o que há de pior na música, pois eles sabem que é isso que vende. É isso que é procurado no Youtube, é isso que querem ouvir na novela e nos programas de auditório do domingo a tarde.
O mp3 me apresentou a bandas, a estilos musicais que eu jamais chegaria perto de conhecer pela forma antiga, mas ele matou a música espontânea, de composições naturais, com feeling. A sobrevivência da indústria da música se dá apenas pelo que ouvimos hoje: músicas descartáveis e one hit wonders.
Pior para as bandas novas que têm um caminho muito mais difícil que teriam a vinte anos atrás, ou alguém acha que surgirá um novo Blur? Um novo Moby? Um novo Jamiroquai?
Se um dia isso mudar, acredito que demorará muito tempo ainda.

1 Comments:

At 11:59 PM, janeiro 23, 2012, Blogger Eduardo Lima said...

Concordo plenamente, porém essas restrições não estão apenas ao mp3, aos formatos de vídeo e seriados, mas aos caríssimos softwares que as empresas produzem. Eu poderia endossar essa discussão com palavras calcadas nas relações de trabalho e consumo, porém, contribuirei apenas com uma palavra: Dinheiro. Culturas são construídas por dinheiro, governos subvertem a produção cultural graças ao dinheiro, a verdade não rende dinheiro, bolhas são feitas de promessas e mentiras, bandas boas cantam verdades que o sistema não quer ouvir e são varridas para baixo do tapete. Sinto, mas quem deveria ler esse texto simplesmente não lerá. Excelente ponto de vista.

 

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