Dissonâncias.
"Mente sã em corpo são" foi uma frase dita à exaustão nos anos 1970 e 1980, época que começou um forte movimento de culto ao corpo belo e à boa forma. Hoje estamos voltando ao culto ao corpo são, já a mente... ah essa tem que ter alguma depressão ou ansiedade ou algum distúrbio psicológico autodiagnosticado da moda.
A frase que inicia esse texto prega a união entre corpo e mente, coisas que não podem sobreviver separadas. Coisas que lutam para não se separarem.
A dissonância que destrói não tão lentamente uma pessoa é seu corpo estar onde sua vontade quer estar e sua mente presa onde deveria estar. Todas as sensações e percepções que temos se tornam pálidas, esfumaçadas pois nossa mente não está próxima para absorver todos os estímulos que os sentidos do corpo captam. Sabendo que a mente nunca acompanha o corpo, o corpo já não quer ceder à vontade, à necessidade de estar nos lugares que precisa para relaxar, para se curar, para se fortalecer e, com isso, dividir essa força com a mente encarcerada. A mente presa tenta a todo custo prender o corpo e quando a vontade se sobrepõe a isso cria um processo que lentamente leva à ruptura. Não é indolor.
A mente nunca quer estar presa em uma situação, é como querer prender um som em uma caixa, a imobilidade irar levar à exaustão e ao declínio e, finalmente, à extinção. A mente presa não quer o corpo longe, não quer a vontade se manifestando, ela quer a inércia para não perceber a passagem inexorável do tempo. Não é culpa dela, ela sabe, ela apenas está presa numa espiral de onde não há escapatória fácil ou possível.
Quando a mente e o corpo finalmente dividem o mesmo ambiente a mente quer usar o corpo para fugir, mas por questões de dever, sabe que não vai, mesmo quando pode, mesmo por uns momentos. Por isso ela deixa a vontade e a necessidade de alívio levarem o corpo para longe, por mais que essa tensão provocada da distância seja dolorosa.
Com o tempo, o frágil cordão que une os dois entes tão necessários vai se esgarçando, puindo, chegando perto da ruptura. Quando a ruptura se faz presente, tanto o corpo quando a mente dividirão o mesmo espaço, mas não mais se reconhecerão.
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