Pensamentos de Piloto Automático.
Em uma estrada conhecida e vazia, sem muito para prender atenção a não ser a luz dos postes passando rápida, regular e monotonamente pela janela como se fosse o motorista que tivesse em repouso a atenção é desviada para o alto do para-brisas onde a pálida luz de uma meia-lua crescente luta para trespassar as nuvens de chuva, fazendo as gotas que resistiram ao vento e ao limpador brilharem como as estrelas escondidas pelo mal tempo.
O céu dividido entre luz e sombras chama a atenção perigosamente desviando o olhar do asfalto cinza e malhado por remendos mal feitos.
A cada curva a lua, como uma criança levada, brinca no para-brisas, ora no meio, ora nos cantos, às vezes até se escondendo atrás da coluna e espiando sorrateiramente na ponta da janela lateral. A mente distraída se diverte, pensa e coisas leves e se deixa relaxar. O caminho não é percebido e passa mais rápido que o relógio indicaria.
À frente, luzes vermelhas das lanternas e sinais trazem de volta a realidade noturna de um trânsito onde precisamos nos defender da imperícia e abuso dos outros que se enxergam como motoristas.
Dali para frente, a atenção voltada para apenas para o trânsito caótico da cidade, a lua em seu estado crescente é deixada de lado, mas não sem remorso. Apenas ao término da viagem há a necessidade urgente de olhar o céu e a impressão que a lua se aproxima do horizonte, humilhada por ter sido trocada por coisas tão banais e ainda assim com o orgulho de não perdoar ser trocada e não ficar mais um minuto que seja no céu para a admiração de pessoas tão preocupadas com coisas pequenas.
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