abril 21, 2010

Nivelando Por Baixo

Sei que a burrice não é contagiosa, mas o desinteresse parece ser.
Quando comecei a lecionar ainda achava que poderia com minha empolgação, com o passar de algum conhecimento prático fazer um ou outro se gostar da minha matéria, com o tempo me conformava em fazê-los se interessar alguns segundos pelo que eu estava falando. Hoje nem isso pretendo mais.
O que vejo, independente da idade ou da série, é um bando de gente se achando "os coitados" porque têm que estudar, achando o fato de ler três linhas de uma pergunta para responder em uma ou duas palavras uma tortura nível Inquisição Espanhola. Eles querem o mínimo, exigem o mínimo. Não conseguem olhar a frente e ver como isso vai fazer falta.
Eu não consigo entender esse interesse visceral pelo mínimo, como se fosse uma ofensa tentar fazer um trabalho acima da linha da mediocridade. Isso sim é contagioso, não a burrice endêmica que vejo nos quadros escolares. Já entro em certas turmas desestimulado a fazer, a tentar fazer um trabalho bom, muitas vezes nem um trabalho médio consigo fazer, eles não querem e não deixam.
É muito ruim sair de uma aula com a impressão de ter passado dois tempos enganando, fazendo apenas a hora passar. Estabeleci um nível mínimo para o meu trabalho, mínimo mesmo, e é muito ruim quando nem isso eu consigo alcançar ouvindo que "dou matéria demais", que "sou mau", etc.
O que eles pensam da Escola, da Educação deles? Não querem aprender, não vão à Escola, fiquem pastando a vida toda. Problema não é meu. Agora ir para fazer número, gastar dinheiro e ser mais um nas estatísticas de reporvações? Por quê?
Queria entender.
O pior que esse desinteresse que eles têm, essa ojeriza ao conhecimento, é sim contagiosa. Não queria, luto muito contra isso, mas vai chegar o dia que eu não vou mais fazer questão de mostrar a eles que apenas um conhecimento mínimo nos permite andar, subir. Serei exatamente o que tento evitar: o professor cínico, enrolão que dá o mínimo mostrando como se fosse o máximo.
Pior pra eles se eu me acostumar com a ideia.

abril 14, 2010

A Chamada Inveja

Esses dias meu primo comprou um Honda City. Não tenho inveja do carro novo dele, ele merece, sempre trabalhou muito para conseguir o que queria. Pessoas assim merecem sempre mais.
Tenho inveja do que ele fez com seu carro velho, uma Fiat Uno.
Antes, deixa eu explicar: nós que estamos na parte de baixo da classe média baixa, quando trocamos de carro usamos sempre o carro velho como (parte) da entrada e nos endividamos o resto da vida com as prestações, mesmo sabendo que um atraso nos custará a alma ou algo mais importante. Mesmo para comprar uma carro menos velho que o meu uso o meu atual como parte do pagamento. Ainda assim quero ressaltar que eu não tenho inveja do carro novo dele.
Voltando ao assunto, eu tenho inveja dele simplesmente ter dado o carro antigo dele para o meu tio juntar com o dele para comprar um melhor (como explicado no terceiro parágrafo).
Sempre pensei em dar um presente assim ao meu tio, ele merece. Sempre esteve perto, sempre ajudou, sempre fez o que pôde por mim, minha mãe e meu pai, quando este era vivo. Queria ter sido eu a dar esse presente a ele. Essa é minha inveja.