abril 24, 2024

A Arte de Fingir que está Tudo Bem.

Algumas vezes as pessoas nos levam a mudar o jeito como as vemos e a forma como queremos estar próximos dela. Nos afastam com um tranco que, como o susto, demoramos a ficar equilibrados de novo, com olhos arregalados e piscando incrédulos. Nesse momento temos que tomar um decisão definitiva. Decisão difícil de tomar e mais difícil ainda de manter. O tempo passa e às vezes fingimos esquecer, ainda mais quando tem que haver uma convivência indesejada, mas inevitável. Mas quando o que era para ter sido uma exceção se torna uma regra, a decisão de afastamento intempestiva toma a forma de uma certeza inexpugnável.

O problema já dito anteriormente é quando as circunstâncias não permitem o afastamento, aí vestimos não só uma máscara, mas toda uma fantasia e fingimos que está tudo bem, com comprimentos e sorrisos engessados, com perguntas vazias e assuntos inócuos, sem nunca realmente falar de algo relevante para nós ou para o outro.

O problema começa de verdade quando somos tão bons em fingir que as pessoas não percebem e passam a acreditar que está tudo bem. Costumo repetir duas coisas, as saber: "não é porque eu não estou reclamando que está tudo bem" e "se preocupe quando eu não reclamar mais". Como de costume, ninguém presta atenção. 

Chega um ponto onde não queremos sair do afastamento que conseguimos e continuam nos puxando para dentro, como se ainda quiséssemos saber, como se ainda nos importássemos. Não, não quero saber, não me importo. E se não fosse por outras circunstâncias, já teria cortado definitivamente o assunto desde sua origem e toda vez que ele ameaçasse aparecer.

Já que eu fui afastado, hoje eu só quero ser deixado o mais longe que eu puder.

abril 18, 2024

Lembrança.

Faz 33 anos hoje. Passa rápido, o tempo afasta a sensação mas ela ainda está lá, sempre vai estar. Não que diminua, ou fique menos intensa, ou seja absorvida pelo vazio da ausência, ela ainda está lá tão forte e intensa como ontem. Só que estou mais acostumado.

Todo ano nessa data, pelo menos uma vez por dia, vem a lembrança que fica discretamente escondida os outros 364 dias no ano. Aparece de repente como uma visita inesperada na hora que estamos quase saindo de casa e se instala, se recusando a ir embora.

A lembrança de como eu sabia que um dia aconteceria, que estava próximo e acelerando e mesmo assim eu sempre achei que teria mais tempo, mais uma semana, mas um dia. Tentava ignorar o inevitável, até que o inevitável aconteceu.

Lamento hoje não ter me despedido dignamente, ter deixado para o dia seguinte, o dia seguinte veio, e eu não tinha mais para quem me despedir.

O bom que logo isso que sinto vai embora.
Até ano que vem.

abril 16, 2024

Adeus à distância.

Aquela família que pelo tempo de convivência é quase a sua. Que te acolheu por ser amigo de uma das crianças, se nem te conhecer, mas sempre te tratou como um deles.

Aquele adulto que sempre teve decisões precisas, que foi um dos exemplos mais verdadeiros do que seria ser um bom marido, um bom pai um bom Pastor.

Aquele amigo que estava junto grande parte da infância e me acompanhou na adolescência e na idade adulta. O amigo que eu queria abraçar fisicamente nessa hora difícil, mas por obrigações da vida adulta, não foi possível. 

Tenho certeza que ele sabe o quanto eu gostaria de estar aí, para homenagear seu Velho, abraçar sua mãe e irmã.

O que me conforta é que tenho certeza que ele é a família se sentiram abraçados por todos os que não puderam estar presentes.