fevereiro 23, 2023

Dissociação.

O problema em ser dissociativo é conseguir e, às vezes, até preferir conviver com situações opostas que nunca chegarão a um equilíbrio. Como um pêndulo de moto perpétuo, cada momento está em um extremo e nunca nem passa pelo repouso.

Ou estou sendo jogado em uma direção ou na outra e, nas raras vezes que já me senti chegando próximo ao repouso a (quase) inércia foi violada como se eu não quisesse ter mais nenhum controle sobre o que estava acontecendo quando eu apenas estava próximo de uma situação de paz.

O problema recorre quando precisamos ir em duas direções diferentes e isso acaba sendo reconfortante porque podemos chegar a dois objetivos concorrentes ao mesmo tempo o que, teoricamente, seria impossível. No fim, acaba sendo tranquilizador como um prêmio de consolação, mas, por outro lado, há uma frustração de não ter o prêmio total em nenhum dos casos.

Por ser, acredito, algo tão paradoxal e raro pouca gente percebe que o processo começou a acontecer e está pegando cada vez mais velocidade. Quando perceberem, já vou estar longe o suficiente, em vários lugares, em direções completamente opostas, impossíveis de alcançar, sem vontade de ser alcançado.

É tragicamente engraçado porque não quero, nunca quis em todas as vezes que aconteceu, nada disso. Apenas sou obrigado a seguir. Me aproximar ao máximo enquanto estou me afastando de maneira inexorável e contínua.

Uma vida baseada em "O que eu posso fazer agora? A decisão final não foi minha".


fevereiro 14, 2023

Conhecimento e Controle.

Autoconhecimento é uma das ferramentas mais poderosas que podemos ter, mas muita gente abre mão disso porque não chama as coisas pelo nome. Frustração, raiva, tristeza, indiferença. Não adianta querer exagerar e dizer que tudo é depressão e boderline e se afundar em algum remédio tarja preta e/ou álcool. Ou ignorar o que sente e para isso se afundar em algum remédio tarja preta e/ou álcool

O problema é que é extremamente desconfortável admitir que sentimos isso pois nos leva a buscar as causas. E às vezes reconhecer as causas e apontar o ou os culpados consegue ser pior, pois é uma pessoa que em teoria não deveria ser um problema, o problema, e só piora a sensação. Isso que nos impede de reconhecer rapidamente, ainda que para nós mesmo, e a partir daí resolver se não o problema, resolver o que sentimos sobre o problema, o que na maioria dos casos resolve o problema (SPARROW, Jack).

Quando identificamos o que sentimos sobre alguma coisa temos o controle e o poder de mudar e, se não resolver o problema, pelo menos ignorar e passar por cima dele. E isso é bem perigoso.

Uma coisa sempre leva a outra e, em muitos casos, é um veloz caminho sem volta: frustração, raiva, tristeza, indiferença. Uma vez no último estágio dificilmente há retorno.

fevereiro 13, 2023

Retroceder nunca.

Então a gente passou mais da metade da vida em um lugar confortável, não iria sempre, mas estava lá sempre que podia. Anos a fio, feliz ou triste, era catártico. Salvava a semana ou o mês, purificado por aqueles momentos. Era um lugar físico, não mental.

Hoje, por motivos alheios a nossa vontade o lugar confortável vira um inferno antes e depois. O durante, a catarse, quase não vale mais a pena. O simples pensamento queima uma raiva indescritível interna, o coração pesa e se aperta, tentando se implodir. Os motivos? Inexplicáveis! 

Por um tempo havia esperança de voltar a ser como era, dos bons momentos. Hoje sei que não há a menor possibilidade disso acontecer e, surpreendentemente, traz uma sensação indescritível de alívio. Quando a desesperança se instala, quando não se tem nada a perder, vemos que não há justificativa para a inércia. Render-me ao que eu não gosto e perpetuar o incômodo? Nem se minha vida dependesse disso.

Se o Inferno está à frente e já estamos nele, só resta atravessar e é isso que será feito. Lava e enxofre não me assustam, dores condicionam, feridas cicatrizam e as cicatrizes são o que deixa a pele mais forte. E quando o mesmo lugar voltar a ser confortável, e será, haverá um Inferno inteiro entre onde eu estiver e quem me trouxe até o início da não desejada jornada.

fevereiro 12, 2023

Preterido.

Gostaria de estar em outro lugar, rindo, vendo algo novo, distraindo a mente para segunda semana de um ano que se inicia. Teria onde ir, o que ver, o que fazer. O tempo está bom para isso hoje. Sem chuva, sem calor excessivo e sem a incômoda sensação de frio.

Poderia terminar o dia fazendo o que gostamos, juntos, e depois voltar para terminar assistindo TV até a hora de nos despedirmos. Poderíamos. Mas não é minha escolha.

Minha escolha foi, em um passado não tão distante, abrir mão de onde eu sempre estive para evitar problemas - problemas esses dos outros, não meus, foi ir até onde eu pude ir, mesmo estando onde e com quem não gosto, até o meu limite. Exigiram mais. Mais não terão.

Fingiram não reconhecer tudo que fiz, inventaram desculpas esfarrapadas para não aceitar um meio termo, andaram para ficar ao meu lado e demostraram isso da pior maneira e na pior hora possível. Ok. Não foi escolha minha, respeito.

Depois só não quero que me encha a paciência. Depois só não quero que tente remediar. Depois só não quero que diga que se arrependeu. Depois de tantos avisos, difícil eu acreditar que não foi de caso muito bem pensado.

Agora eu estou de volta de onde não deveria ter dado um passo. O meio termo, o vamos entrar em um acordo, foi retirado das negociações. Escolheu outra coisa, ok. Vai lá. Só que escolhas sempre têm consequências e muitas consequências não controlamos. A maioria delas se espalham para outras áreas que nem imaginaríamos que fosse afetadas.

Não gosto, mas sei conviver com a ausência. Triste, quando foi outra pessoas que se afastou, decidido quando fui eu a escolher.

fevereiro 06, 2023

Círculos de Intimidade.

Imagine uma fortaleza de filme, pode ser aquelas do Senhor dos Anéis. Uma fortaleza com muralhas externas e internas, emaranhado de caminhos com passagens bem protegidas entre os níveis. O caminho para o castelo em seu centro é um labirinto com vários desafios e caminhos sem saída. O castelo é cercado por um fosso e uma única entrada com uma ponte levadiça bem guardada e, uma vez dentro do castelo, para andar em seu interior é mais difícil que nas partes externas da fortaleza.

Esse complexo tem pessoas bem distribuídas, cada um em seu nível de acesso e não pode passar para níveis interiores sem convite, obtido por merecimento. Muitas das pessoas acham que estão mais internos que estão, mas, em todo os casos, não querem e nem precisam se aproximar mais. E uma vez indo para fora dos muros, é lá que restarão.

Fez a imagem? É assim que mentalmente eu organizo meus conhecidos, o "castelo" hoje está deserto, quem estava ali não aproveitou e foi gentilmente colocada para algum nível mais externo, não voltará tão cedo. Talvez nunca.


fevereiro 01, 2023

Em Silêncio.

Gosto de escrever aqui como eu vejo o mundo, como eu sinto o mundo. Sei que ninguém lê e isso me dá uma certa liberdade. Colocar algumas coisas aqui como se alguém ouvisse é relaxante em um certo ponto e eu tenho certeza que não estou enchendo o saco de ninguém com essa coisa de "ain... pereciso disabafá ain...".

Inclusive queria que tivessem essa consideração comigo, mas acho que já escrevi sobre.

Só que tem coisas, tem sensações que nem aqui dá para escrever e esse é o problema. Elas não têm um caminho de saída e ficam se revirando, se remoendo, chamando atenção e se alimentando de nós até que ou somem ou são consumidas em um canibalismo profano.

Mas é um processo contínuo e lento, demora dias, às vezes semanas. O problema não sai da cabeça, fica rodando em segundo plano, ocupando espaço, gastando energia e gerando estresse. Toma conta de todo pensamento livre e uma parte do ocupado, acabando com a concentração e motivação. É um peso quase que físico é uma sensação contínua de cansaço e inutilidade e não há nada que se possa fazer para resolver isso, a não ser sofrer o processo pelo tempo que dure.

Ás vezes apenas o orgulho de não ser um desistente me mantém de pé.