maio 31, 2020

Enquanto dependerem de nós.

Independência não é não depender do outro, isso é fácil, bem fácil. Basta um emprego com um salário bom e alguma estabilidade psicológica, nem precisa de muito. Basta ter ser um mínimo autossuficiente para pagar suas contas e aprender a conviver com sua própria personalidade.
Mas a independência verdadeira só vem quando as pessoas não dependem de nós. Quando a gente é livre para fazer o que precisar, fazer o que queremos, inclusive largar tudo, desistir de tudo sem deixar ninguém pra trás, ninguém desamparado no processo.
Enquanto alguém que estimamos depender da gente, física, financeira ou psicologicamente, estaremos presos a ela, estaremos dependentes da nossa consciência de certo e errado, de não querer ou poder conviver com as consequências de seguir em frente ou de largar tudo.
Todos nós somos dependentes e seremos enquanto as pessoas que dependem de nós não se tornarem, elas mesmas, independentes.

maio 30, 2020

Reflexos de luz e sombras.

Muitas pessoas estão, não literalmente, enlouquecendo com o confinamento causado pelo Vírus Chinês nesses primeiros meses de 2020. O fato de estarem em casa (e eu aqui não vou entrar no problema econômico, não dessa vez), mesmo com salário garantido, mas sem sair, ver gente, ver rua. Trabalhando de longe de colegas, parentes, às vezes até namoradas, sem contato e com mais tempo para conviverem com eles mesmos.
E esse é o problema.
Muita gente fala em refletir, mas quando refletimos vemos nosso próprio reflexo.
E aí?
Com o tempo que nos foi imposto pela pandemia estamos nos encarando mais, vendo com mais detalhes e sem ter nada que desvie o foco. Quantos estão gostando do que estão vendo? Vou além. Quantos estão se surpreendendo, negativamente, com o que estão vendo? Todas suas características, sem máscaras, sem justificativas, apenas como somos, nus e crus. Nos pensamentos mais fundos, mais escondidos nas sombras de uma pálida luz de virtudes falsas que ostentamos? Com o tempo para ver nosso reflexo, com o olho acostumando aos contrastes, nada mais fica escondido.
Quando a pandemia passar e o novo normal se estabelecer, será que teremos superado todo esse autoconhecimento imposto, será que nos sentiremos confortáveis em refletir nossas máscaras, nossa autoimagem?
Isso vai ser o verdadeiro desafio para muita gente.

maio 12, 2020

O caminho mais difícil.

Muitas vezes, grande parte delas, eu gostaria de ter algum tipo de fé em um mundo espiritual, em alguma coisa espiritual. Não queria usar essa fé para ter esperanças de conseguir algo ou de algum consolo, ou que as coisas melhorassem sem esforço.
Eu queria acreditar que algo olha por mim, mesmo que olhando com maus olhos, só para entender alguns evento aleatórios. Coisas darem errado por alguma razão, eu até entendo, mas é duro quando do nada tudo muda, e muda para pior.
Uma vez, quando eu era criança, no Leme, acho,  correnteza me puxou e eu fiquei a centímetros de um banco de areia que deixava mar raso para mim. Toda vez que conseguia apoiar meu pé a areia se desfazia embaixo dele e eu voltava a ficar no fundo. Longos minutos. Tentando por cima e por baixo da água, vendo a areia e nunca pisando nela. Foi extremamente cansativo, pensei em desistir e deixar maré me levar várias vezes, depois alguém me resgataria e eu chegaria à praia.
Como adulto e sem fé, eu não acho que tenha alguém que vá resgatar ninguém.
E eu estou cansado igual, a areia sempre se desfaz sobre meus pés. Se eu não fosse hoje quem está no resgate, eu deixaria a maré me levar.