junho 28, 2022

Aquele sorriso.

Aquele sorriso há muito não visto e sequer lembrado, esvaecido aos poucos da memória de modo a sua falta não se fazer sentida, aquele sorriso escondido, evitado, trocado por um expressão insincera.

Aquele sorriso natural, feliz e recompensador, aquele sorriso deixou saudade, uma saudade não sentida já que parecia que ele nunca tinha existido.

Aquele sorriso que reaparece num gesto simples, aprece ainda que envergonhado por ter estado longe há tanto tempo, inseguro, parecendo não saber como seria recepcionado. Aquele sorriso que acha que sua falta não foi sentida, aquele sorriso que desfaz as sombras das nossas dúvidas.

Aquele sorriso que não sai mais da memória, aquele sorriso que não queremos mais ficar longe.

junho 24, 2022

Motivos Bobos.

Nenhuma briga é por um motivo bobo. Se alguém mostrou que algo é desconfortável para a ela a ponto de reclamar, de fechar a cara, de se afastar o que quer que tenha acontecido não foi bobo para ela. Se foi bobo para alguém, melhor, deve ser mais fácil de não deixar repetir.

Agora, se o motivo é bobo e mesmo assim não há a menor vontade de evitar que se repita, pelo contrário, até faz toda hora de propósito, o bobo não é o motivo, o bobo é a gente que não vê que o descaso com o nosso incômodo chegou a um nível inaceitável.

junho 22, 2022

Tempo.

Não sei como outras pessoas marcam a passagem do tempo, se algum evento ou mudanças marcam a referência da passagem dos anos, eu só sei que eu não tenho mais nenhuma. Eu não faço mais ideia quando as coisas ocorreram, se próximas ou distantes, se antes ou depois, sem me esforçar muito para lembrar as datas. E nem sempre consigo lembrar com uma exatidão aceitável.

É angustiante, às vezes, mas é fácil - e vergonhoso - explicar: estou estagnado. Cheguei num ponto onde nada muda, ou pelo menos não muda numa velocidade o suficiente para gerar um ponto que possa ser usado como referência. Percebi isso quando me dei conta que há mais de sete anos não tenho uma noite de sono normal em que eu possa relaxar.

São sete anos de sono leve e preocupado, atento a cada movimentação e barulho. Sei que deixei passar muita coisa nesse tempo, mas foi por falha física; uma hora o corpo e, porque não, a mente estão tão exauridos que os sono profundo vem e, quando acordamos não temos a menor noção se se passaram 15 minutos ou 12 horas.

O tempo pra mim tem passado muito devagar, sem marcas, sem mudanças aparentes. As grandes mudanças que ocorreram não mudaram em nada minha rotinha.

junho 20, 2022

Respirar e seguir.

Quase todo mundo que já teve um mínimo de convivência comigo já deve ter ouvido eu falar que acho inútil a necessidade do tal do desabafo e dizer o porquê. Se você não convive, explico: ao contar nossos problemas para alguém que se importa você só vai deixar essa pessoa pesarosa e preocupada, ao contar para alguém que não se importa, você só vai aborrecê-la e entediá-la.

Esse pensamento é quase um mantra para mim, mesmo para aqueles coitados privilegiados com os quais eu tenho uma maior intimidade. Meus problemas eu guardo para mim.

Não me arrependo dessa escolha em nenhum momento, decidi mostrar sempre minha melhor versão, meu melhor estado de espírito para quem naquele momento estiver próximo. Meu pior, meu desânimo, meu... isso eu guardo pra mim, tento esconder até de mim.

Ser sozinho não é o problema, estar sozinho às vezes é.

Desenvolvi uma atitude mental de colocar problemas em segundo plano quando não estou na posição de resolver ou, pelo menos, amenizar suas causas e consequências. Uma vez feito isso, saio todo dia, vejo um inúmero grupo de pessoas e pareço sempre o mesmo, rindo, despreocupado, como se a minha vida funcionasse como deveria funcionar. 

Melhor assim que toda vez que encontrar alguém ter que dar um relatório sobre como as coisas não andam, como os problemas não se resolvem, como as situações ruins se acumulam e não dão uma mínima possibilidade de eu sequer colocá-las em fila para tentar resolver.

Não sei quantas pessoas eu conheço individualmente, ou a quantos grupos sociais pertenço, mas sei que para cada um deles eu sou uma pessoa diferente. É uma rotina de uso de máscara social que, quando estou sozinho e finalmente posso libertar meu rosto e me olhar, eu muitas vezes não me reconheço.

Está chegando o dia que vou ter que usar essas máscaras até para mim.

junho 14, 2022

Rotinas.

Me impressiona sempre o poder que uma rotina tem na vida de uma pessoa. Talvez por isso eu me apegue quase desesperadamente a minha e quando por uns minutos tenho que mudar um plano ou um hábito fico desanimado por dias.

Mas assustador mesmo é quando vemos um cérebro com toda parte cognitiva em pane, incapaz de entender, de comunicar e mesmo assim obrigando e dirigindo o corpo a fazer o que tem feito por anos ininterruptamente. Assustador e triste por ver toda uma pessoa resumida à hábitos simples e repetitivos, sem propósito ambição.

Difícil acreditar, aceitar, que uma pessoa possa se tornar quase um autômato, agindo por instinto e programação repetitiva, incapaz de negar uma programação básica enraizada por toda uma vida que não chegou a lugar nenhum, não fez nem produziu nada e o pouco que viveu se esvaindo como fumaça de uma fogueira sem brasas.

A pior parte é ter que assistir sem poder fazer nada.