agosto 03, 2020

Momentos

Sentado à mesa do computador, pernas sobre a cama, um pé sobre o outro. No colo, um livro de páginas artificialmente amareladas e de grande volume. Rosto apoiado na mão direita, braço esquerdo repousado no apoio da cadeira. Próximo ao joelho um pequeno gato branco dorme tranquilamente.
Os sons da TV em outro ambiente são apenas ruídos inteligíveis, os olhos distraídos passeiam nas letras arrumadas em retângulos incompletos nas páginas, as palavras não são analisadas, apenas absorvidas formando uma sequência de eventos em outros lugar e outro tempo, uma realidade há muito descrita. Absorto em outras vidas, não sinto a perna adormecer e a má postura não provoca dores, tão comuns ultimamente.
A concentração só é arranhada quando o pequeno gato se da conta que tem um humano perto e usa suas patas dianteiras, as únicas completamente funcionais, para pedir carinho. No automático a mão se aproxima dele, ora acariciando, ora sendo agarrada, lambida e mordiscada, num misto de carinho e posse e indescritível afeto.
Após o término de um capítulo aleatório, páginas distantes do início da leitura o portal a esse outro mundo é fechado e a entediante normalidade de mais uma noite comum se faz presente.