janeiro 25, 2023

Sono.

Sempre tive um sono estranho. Estranho por qualquer critério que se analise, seja por tempo: tem noites que simplesmente não durmo, final da tarde mal consigo ficar acordado, tem dias que durmo 16h quase que seguidas, por intensidade: tem horas que durmo mas escuto tudo ao redor, outras a mente só para de funcionar e nada me acorda; por sonhos: tem um cenário de sonhos fixo, quase uma cidade ou tenho paralisias noturnas. É legal ao se acostumar.

Ultimamente tenho sentido logo antes de acordar que eu estava em uma realidade muito abaixo (no sentido gravitacional mesmo) dessa. Quando acordo parece que estou subindo por um túnel totalmente escuro e silencioso. Sei o que está acontecendo, mas não sei de onde eu estava vindo. A impressão que dá é que minha cama, como a de um vampiro de um filme clichê, é afundada num alçapão muito abaixo do solo onde todos os sentidos são privados, menos a consciência, e depois sou impulsionado para cima até voltar ao mundo desperto.

Não é desconfortável, só estranho. Parece que todo dia a vida começa do zero, embora ainda tenha lembranças de tudo até aqui. Eu só queria saber, por curiosidade apenas, onde a consciência se meteu tão profundamente para apagar qualquer registro de um sonho ou algo parecido.

Ansiedades.

Todo mundo é ansioso em algum grau, é normal, é até um modo de seleção natural: a gente fica imaginado o que pode acontecer, como vamos reagir, que consequências isso iria ter e cria vários cenários e tenta se preparar para o que vai acontecer. Normalmente não acontece nada daquilo e não sabemos o que fazer na hora, mas isso é um outro assunto.

A gente fica ansioso com o que vai acontecer e isso até dá uma tranquilidade, fica apenas aquela contagem regressiva no fundo do pensamento e a decepção de, no dia, alguns detalhes serem diferentes. É até um cenário tranquilo.

Tem aquela ansiedade do que pode acontecer, mas não é certeza. Essa é a mais comum.

E tem aquela ansiedade sobre o que sabemos que nunca vai acontecer, ou que, cientificamente falando, é infinitamente improvável mesmo que exista infinitos universos.
Essa é a pior.
Essa é a que não vai embora.
Ficamos imaginando várias coisas em todos os detalhes, o que seria dito, respondido, as réplicas e tréplicas. Ficamos revisando os detalhes lógicos (do nosso ponto de vista, óbvio) de como e porque no final nos damos mal, de como e porque podemos nos dar bem e no final, como uma folha de rascunhos usada, amassamos e jogamos fora.

Só para começar de novo...

janeiro 24, 2023

Solidão só é problema quando está acompanhada (parte 2).

O problema em estar sozinho quando estamos acompanhado pode ser resumido no impedimento de ir embora, mesmo que não fisicamente, mas mentalmente ao menos. Se concentrar numa música, num jogo, numa tela, enfim, em algo que tire a cabeça dali.

O problema começa quando não podemos nem fazer isso, nem nada. Quando ao contarmos uma história, um acontecimento e como nos sentimos com aquilo, seja para ouvir uma opinião ou apenas porque acha que seria interessante, somos brusca e brutalmente interrompidos sem tempo de terminar ao menos a introdução. Quando deixam claro que não somos interessantes o suficiente, quando nossa presença é dispensável e mesmo assim não termos a permissão para sair.

Quando isso acontece, tem acontecido com mais frequência que eu gostaria, ser sozinho se torna mais que um alívio, se torna um desejo.

janeiro 23, 2023

Distâncias.

O afastamento é natural, mas nem sempre voluntário. Pode ocorrer por falta de agendas, inibição em marcar alguma coisa ou apenas falta de tempo de um, ou os dois, de fazer o que costumava fazer junto. Nesses casos, a distância é só física e com a facilidade das redes sociais o contato ainda fica mantido com um bom dia, alguns assuntos aleatórios ou apenas a troca de memes para divertir a outra pessoa.

Outro afastamento é o unilateral. Esse é o pior, o voluntário. Ele cresce como um ruído chato que cada vez mais toma conta do ambiente até que some da nossa atenção por que nos acostumamos a isso, no caso, a falta disso.

Sempre começa com uma decisão procrastinada. Depois vem o policiamento, você vê algo e acha que pode ser legal para a outra pessoa ver mas opta por não mandar. A princípio porque pensa que vai incomodar, depois porque não vê porquê e, no fim, nem pensa em mandar. Quando chega nesse ponto, nem lembra de que outra pessoa poderia gostar daquilo, ou apenas de saber que lembrou dela. E como o ruído, não percebemos mais ele pois se tornou normal e colocamos outras coisas no lugar e aquilo sumiu do campo de atenção. Vez ou outra ainda aparece, mas por cada vez menos tempo e vezes mais espaçadas.

Nem sempre esse segundo caso é precedido por um afastamento físico, mas sempre é sucedido por um.