março 13, 2025

O fundo, interrogação.

Esses dias fiquei impressionado comigo mesmo, o que é bem raro. Fiquei impressionado em como eu simplesmente desisti, de como eu quero que o mundo acabe desde de que eu possa ser deixado em paz.

Apenas, literalmente, deixei um problema bem grave sumir, se esconder e talvez ir embora, não sei, pode ser que volte, pode ser que não tenha ido, e simplesmente deitei para descansar.

Penso nisso desde então. Eu não era assim, não era para ser assim. Apenas pulo de problema em problema, resolvendo os poucos que me sobram, minimizando os que posso ou simplesmente esperando o Titanic afundar com preguiça de esticar a mão e pegar uma boia salva-vidas.

Hoje a mesma coisa, joguei a sujeira pra baixo do tapete e esperei que ninguém visse, ou que se vissem, pimpassem sem falar comigo. São as únicas coisas que posso fazer.

fevereiro 22, 2025

A Espera

 A pior parte é a espera. Eu sei o que vai acontecer, eu sei que não posso evitar o que vai acontecer. Eu já não sei se eu não quero que aconteça.

Apenas deixo as coisa desenrolarem e olho com melancolia o quanto vai ser desperdiçado por ego e indiferença. É agora é o meu ego e logo será minha indiferença que tornará inevitável. 

Uma pena.

Em breve tudo se tornará lembranças e logo passará ao esquecimento. 

A vantagem em ter percebido o que está em curso é poder estar preparado, ter um plano B, ou C, ou N... engatilhado para qualquer contingência. 

Sei que me culparão por isso, principalmente por já estar em um caminho alternativo. Mas eu acredito mais no meus olhos que nos meus ouvidos e eu sei que antes de desistir eu cheguei ao meu limite. 

janeiro 30, 2025

Vida pela metade.

Eu não queria, achei que fosse a última vez, mas acho que vou ser obrigado a passar por aqui mais uma vez, pelo menos. Essa vez não está valendo, não por inteiro, não por completo.

Eu tenho uma vida pela metade, nunca todas as peças estão lá ao mesmo tempo. Se tenho um lugar para ir, não tem companhia, se não precisa de companhia, não tenho tempo. Se tenho uma companhia que em teoria deveria ser fixa, ela nunca está lá. Se sobra tempo, falta o que fazer. Se tem mais de uma coisa para fazer, é no mesmo horário.

Sempre tem algo faltando, sempre tem alguém faltando, sempre estou pensando que a outra escolha teria sido melhor. Sempre tem um espaço a ser preenchido.

Até ser sozinho eu não consigo, porque sempre tem alguém precisando que eu esteja lá. Acho que até no final, de algum modo, vai faltar algum detalhe que me impeça de ir totalmente.

janeiro 02, 2025

Acabou.

Não comemoro datas especiais. Nenhuma. Não vejo nada diferente no dia do meu aniversário, Natal, Ano Novo, dia comemorativo da minha profissão... pelo menos é feriado. Ponto pra ele.

Todas as datas é sempre a mesma coisa para mim, não gosto de ser parabenizado, presentear ou ser presenteado. A maioria faço mais por um hábito arraigado de convivência social que por qualquer significado, mas não ligo se não recebo os presentes que dou, mas sempre me sinto em dívida quando não retribuo, principalmente se não sei como poderia retribuir.

Mas esse Reveilon de 2025 foi diferente. Quando deu meia noite e 2024 finalmente virou passado, senti uma sensação de leveza, como se o mundo tivesse saído de cima de mim e o sangue finalmente tivesse voltado a circular que, juro, quase senti uma dormência física. Foi uma alegria que teve que ser contida pois estava em público, mas meu espírito caiu de joelhos e chorou enquanto meu rosto tentava olhar para os fogos, agradecendo a penumbra, e tentando secar as lágrimas no vento.

Não eram lágrimas de tristeza ou alegria, mas de alívio, não era mais 2024.

De longe, foi o ano mais difícil que eu tive. Escolhas erradas, apostas perdidas, aleatoriedades, planos desfeitos, problemas que foram gerados não por mim, mas para mim, desprezo e ser preterido sempre que tiveram oportunidades. Um ano que terminou eu precisando estar onde não quero mais estar, mas preciso quase desesperadamente, me fazendo sentir um dos funcionários mais antigos do mundo, no limite do literal.

Não sei o que vou ter que atravessar esse ano, os espinhos que estão no meu caminho prontos para tirar o resto de sangue da minha pele, mas acho que só o fato de não ser provável que seja igual ao ano que terminou já me dá uma pouca esperança.

Atualização: durou apenas cinco dias.

dezembro 03, 2024

Nada.

Sono, cansaço e dor de cabeça. Acho que as únicas coisas que eu consigo sentir são físicas. Todo o resto sumiu, foi apagada, um pálida memória do que era. As boas e as ruins.

Até tenho me forçado a sentir alguma raiva, alguma indignação, alguma tristeza o mais perto que consigo chegar disso é alguma condescendência e resignação. Vontade de ir mas a curiosidade de ver até onde chegaria ainda está um pouco mais forte. Isso e falta de um lugar para ir depois.

Me impressiona o vazio onde tinha que ter alguma coisa, ter apenas apatia. Chega a ser irônico como eu sempre tentei fazer com que a situação não chegasse nesse ponto e quando chegou estou até (quase) feliz.

O tempo que eu perdi, o estresse que eu criei, tudo o que eu passei e agora... nada. Simplesmente nada. Apatia e alívio.

E nada é o que eu vou fazer... por um tempo. O problema agora é lutar para não me sentir um vendido, vai ser uma sensação estranha.

novembro 16, 2024

Depois não adianta.

Já são nove anos desde o problema que deixou ela reclusa. Desse tempo para cá a única coisa que eu ouço é "preciso ir lá, preciso ver como é que está". Desse tempo pra cá o única coisa que eu vejo é estando na mesma rua não poder tirar cinco minutos para realmente ver como está, para agir de acordo com o que me falam. Antes desses nove anos, muitos anos se passaram sem uma visita, um telefonema, mesmo estando perto.

Esse tipo de descaso realmente não me incomoda, o que me incomoda é a choradeira hipócrita de desculpas esfarrapadas de falta de tempo quando todos sabemos que é falta de interesse, falta de consideração. É a força que eu faço para sorrir não contestando, mas nem fingir que acredito finjo mais.

Depois, quando não for mais possível, não quero que me encham o saco, não quero falsos pedidos de perdão com igualmente falsos arrependimentos. Não me peçam que os desculpem, não foi a mim que prometeram visitar, peçam desculpas a quem vocês diziam que queriam ver.

Quando a mim, me esqueçam.

outubro 19, 2024

Cansado.

Cansado. Apenas cansado, sem forças e sem motivação. 

Nós últimos 18 meses, algumas coisas há mais tempo, tudo vem dando errado. Cada detalhe de cada aspecto da minha vida está dando errado. Isso cansa. 

Cansado de ter que decidir entre pessoas próxima serem idiotas e não perceberem as coisas ou apenas não ligar.

Cansado de estar em lugares onde não quero estar e parece a cada dia mais que não querem que eu esteja.

Cansado de estar em um lugar mas a mente ter que estar sempre em outro.

Cansado de ser deixado de lado, de deslealdades, de ser sempre o preterido.

Casando de fingir que eu não estou cansado.

outubro 02, 2024

Pequenas coisas.

Depois de não sei quantos anos, talvez mais de vinte, não tem um animal dentro dessa casa a noite. Todas as poltronas vazias, a cama desocupada, nenhuma bolinha de pelo deitada no meio do caminho pedindo atenção ou comida.

Nada.

Como uma coisa tão pequena, que muitas vezes se escondiam até do nosso canto olho faz falta. Olho para os lugares que eles costumavam ficar e minha memória sobrepõe a imagem que vejo com a que me acostumei a ver e hoje entendo como era necessário eles estarem ali. Como olhar para o bichinho dormindo, desviar meu caminho para fazer um carinho, às vezes literalmente um, aliviava toda a carga de um dia ruim, de um fase difícil.

Hoje estou no vazio, sem ter para onde olhar, sem ter porque desviar o caminho. Apenas o vazio. A TV não consegue fazer companhia, o mundo lá fora não parece ter atrativos.

Mas é assim que vai ser, melhor acostumar.

setembro 28, 2024

Inútil.

Uma das piores sensações que uma posso pode ter é de inutilidade. É de saber o que precisa ser feito, onde fazer e não poder fazer e/ou não saber fazer. É de ver a situação piorando e não conseguir nem parar esse decaimento ou reverter.

É olhar para trás e ver que as ideias que surgiram já no desespero e foram colocadas em prática com resultados mínimos poderiam ter tido algum efeito se tivesse aparecido um pouco antes. É de me culpar não por omissão, mas por incompetência. 

É um pensamento ou sensação que fica sempre às sombras dos pensamentos, incomodando, alfinetando, lembrando de tudo que não pude fazer.

Normalmente em textos aqui eu gosto de deixar uma conclusão, esse não vai ter, porque essa sensação nunca vai embora, sempre vai ser lembrado. Nos momentos onde menos esperamos, para estragar um momento bom ou piorar um momento ruim.

agosto 19, 2024

Percepções.

 Uma frase perdida na TV ontem: "a melhor maneira de demonstrar afeto é estando presente".

Com poucas coisas concordo mais. Pena que as pessoas ao meu redor não prestem atenção nesses detalhes, mesmo que para agir em desacordo com eles. Apenas ignoram.

Acharia melhor que entendessem e negassem que apenas não percebam as coisas ao redor como são. Se não entende, acho que gostaria que perguntasse.

Loopping.

O pior é o vazio. Sem tristeza, sem ansiedade sem nada. Só tédio, indiferença, um viver automático como um roteiro chato, já sabendo o que vamos fazer e quais vão ser as reações. Apenas sigo.

Dormir, acordar, trabalho. Um o outro jogo, uma ou outra conversa interessante, cada vez mais rara, um afastamento natural e quase irremediável. Melhor. Sem tempo para mim, refazendo coisas que estavam funcionando e sem motivo são estragadas, gente tentando me convencer que a realidade que vivo não é aquela, gente que não vive essa realidade, que quer entender um filme por um frame desfocado.

Isso cansa, cansa o corpo, cansa o espírito, cansa. O tempo passa rápido mas as coisas não mudam, não param, não acabam. Apenas parece que estou parado olhando um time lapse qualquer do mundo.

Amanhã é um dia normal, já sei o que vou fazer, falar, as brincadeiras que direi e já espero as reações. Déjà vu.

A única graça é fazer parecer que é a primeira vez que estou passando por aquilo e, ó, é uma surpresa.

julho 25, 2024

Apenas Mais Um.

Acredito que todas as pessoas, nas suas infâncias e juventudes, imaginam e anseiam que serão especiais de algum modo. Esperam ser autores de grandes feitos, ou feitos importantes para algumas pessoas e terão seu nome lembrado com carinho e admiração após deixarem esse mundo.

Eu não fui diferente deles.

O problema que para mim as oportunidades de grandes feitos não apareceram, algumas escolhas - das quais não me arrependo - podem ter me impedido de ter tido pessoas para as quais seria importante. Meus erros e ingratidão e deslealdade comigo também entram nessa conta.

O tempo passou e o peso de ser só mais um anônimo na História da Humanidade se mostrou mais real que nunca. Me sinto invisível, esquecível quando não sou útil. Não sou a pessoa que lembram quando querem uma companhia.

Sempre foi assim, mas uma hora a esperança que algo aconteceria e mudaria as coisas dava força para fazer o que é o certo, ignorar os sinais. Não sei se feliz ou infelizmente, essa esperança já não tenho mais. 

Sei que vou continuar a fazer as coisas que acho certas, por ser o certo, mas não por consideração, por obrigação. Fazer o mínimo, o necessário, já que nem isso tenho de volta. Esperar pacientemente para que, em breve, nem esse mínimo eu precise fazer.

julho 23, 2024

Esperas.

Antes era uma ansiedade feliz, uma espera que eu sabia que valia a pena, contava o dia, as horas e não tinha um minuto de dúvida ou insegurança, como uma criança que viu a bicicleta escondida uma semana antes do aniversário.

Hoje a espera continua, mas é diferente, espero a mesma coisa, conto os dias, as horas do mesmo jeito. Mas o que sobra é dúvida e insegurança. Não é uma espera de algo que vai me alegrar, mas uma esperança que pelo menos eu não saia pior que entrei. Uma torcida, cega de fé, que não haja aborrecimento.

Uma torcida cada vez mais inútil.

Por que ainda espero? Inércia, talvez. Mas cada vez espero menos e com mais resignação, tristeza e outros sentimentos menos nobres. Em breve, sei que não vou ter mais pelo que esperar.

Com uma certa tristeza, espero por essa triste notícia boa.

junho 25, 2024

Decisões Inconscientes.

Algumas vezes eu me vejo preso em situações que eu tenho que tomar uma decisão importante sem nem pensar nela no momento. Voltando e analisando depois, com calma, vejo que a decisão já havia sido inconscientemente tomada há muito tempo e a tal situação foi apenas um gatilho para colocá-la em prática.

Entendendo porque aquele caminho foi o escolhido fica fácil seguir em frente e esperar outras oportunidades de decidir com alguma coerência.

O pior é ver as pessoas envolvidas fingindo que não entendem, que está tudo bem e depois, de forma dissimulada, mostrarem surpresa.

Surpresa porquê?

Avisos foram dados, reclamações foram feitas. Quando avisos e reclamações não são mais feitas, na imensa maioria dos casos, não é porque o problema foi resolvido, é porque não ligo mais que quero que se f... 

Agora é só esperar para depois falar "você fez alguma coisa para mudar isso?" e ver a reação.

junho 17, 2024

Não Sou Todo Mundo.

Redes sociais, com ênfase no social, serve para poucas coisas. Ver vídeos e fotos engraçadinhas, saber de alguma notícia do bairro, saber a programação dos bares que eu gosto de frequentar. Consegui transformar meu algoritmo em quase apenas esse tipo de coisa, mas é quase, apenas.

Muitas vezes, em algumas datas, ele acaba me mostrando posts pessoais de pessoas que eu conheço, ou já conheci. Quando acontece isso é quase que inevitável comparar aqueles momentos, fotos fora de contexto, momentos congelados no tempo, com o meu momento.

Fico com uma certa inveja de ver que todo mundo tem tempo, dinheiro, companhia e eu não tenho mais nada disso. Chego até duvidar se um dia eu tive, se alguma vez era por mim, para mim, ou só estava no lugar certo seguindo a onda dos outros. Em segundos a inveja vira tristeza.

Vejo amigos se reunindo, casais comemorando, ou apenas mostrando que têm um tempo de qualidade juntos. Não tenho isso há não sei mais quanto tempo. Faço parte de um casal, acho que ainda faço, tento fazer mas não me sinto parte, enfim, mas não tenho companhia, não estamos juntos em momento nenhum.

Tenho amizades sólidas, firmes, aqueles amigos que ficam muito tempo sem se encontrar e a conversa flui como se tivesse sido interrompida na noite anterior. Mas esse muito tempo sem se reunir está cada vez mais "muito tempo", e o reunir cada vez mais "sem".

Não consigo descobrir o que houve, não consigo entender o que eu possa ter feito ou falado, mas hoje na prática eu não tenho amigos, não sou a metade de um casal.

Eu apenas continuo, estando aqui para eles, como sempre, porque eu sou o amigo, eu sou a companhia, embora não tenha nunca cobrado reciprocidade, ela tem feito falta.

Preciso de amigos novos, preciso de ambientes novos. E, mais que tudo, eu preciso não estar mais disponível para quem some e só se lembra de mim quando precisa. Mas sei que nem uma nem outra coisa irão acontecer.

abril 24, 2024

A Arte de Fingir que está Tudo Bem.

Algumas vezes as pessoas nos levam a mudar o jeito como as vemos e a forma como queremos estar próximos dela. Nos afastam com um tranco que, como o susto, demoramos a ficar equilibrados de novo, com olhos arregalados e piscando incrédulos. Nesse momento temos que tomar um decisão definitiva. Decisão difícil de tomar e mais difícil ainda de manter. O tempo passa e às vezes fingimos esquecer, ainda mais quando tem que haver uma convivência indesejada, mas inevitável. Mas quando o que era para ter sido uma exceção se torna uma regra, a decisão de afastamento intempestiva toma a forma de uma certeza inexpugnável.

O problema já dito anteriormente é quando as circunstâncias não permitem o afastamento, aí vestimos não só uma máscara, mas toda uma fantasia e fingimos que está tudo bem, com comprimentos e sorrisos engessados, com perguntas vazias e assuntos inócuos, sem nunca realmente falar de algo relevante para nós ou para o outro.

O problema começa de verdade quando somos tão bons em fingir que as pessoas não percebem e passam a acreditar que está tudo bem. Costumo repetir duas coisas, a saber: "não é porque eu não estou reclamando que está tudo bem" e "se preocupe quando eu não reclamar mais". Como de costume, ninguém presta atenção. 

Chega um ponto onde não queremos sair do afastamento que conseguimos e continuam nos puxando para dentro, como se ainda quiséssemos saber, como se ainda nos importássemos. Não, não quero saber, não me importo. E se não fosse por outras circunstâncias, já teria cortado definitivamente o assunto desde sua origem e toda vez que ele ameaçasse aparecer.

Já que eu fui afastado, hoje eu só quero ser deixado o mais longe que eu puder.