novembro 16, 2024

Depois não adianta.

Já são nove anos desde o problema que deixou ela reclusa. Desse tempo para cá a única coisa que eu ouço é "preciso ir lá, preciso ver como é que está". Desse tempo pra cá o única coisa que eu vejo é estando na mesma rua não poder tirar cinco minutos para realmente ver como está, para agir de acordo com o que me falam. Antes desses nove anos, muitos anos se passaram sem uma visita, um telefonema, mesmo estando perto.

Esse tipo de descaso realmente não me incomoda, o que me incomoda é a choradeira hipócrita de desculpas esfarrapadas de falta de tempo quando todos sabemos que é falta de interesse, de falta de consideração. É a força que eu faço para sorrir não contestando, mas nem fingir que acredito finjo mais.

Depois, quando não for mais possível, não quero que me encham o saco, não quero falsos pedidos de perdão com igualmente falsos arrependimentos. Não me peçam que os desculpem, não foi a mim que prometeram visitar, peçam desculpas a quem vocês diziam que queriam ver.

Quando a mimm me esqueçam.

outubro 19, 2024

Cansado.

Cansado. Apenas cansado, sem forças e sem motivação. 

Nós últimos 18 meses, algumas coisas há mais tempo, tudo vem dando errado. Cada detalhe de cada aspecto da minha vida está dando errado. Isso cansa. 

Cansado de ter que decidir entre pessoas próxima serem idiotas e não perceberem as coisas ou apenas não ligar.

Cansado de estar em lugares onde não quero estar e parece a cada dia mais que não querem que eu esteja.

Cansado de estar em um lugar mas a mente ter que estar sempre em outro.

Cansado de ser deixado de lado, de deslealdades, de ser sempre o preterido.

Casando de fingir que eu não estou cansado.

outubro 02, 2024

Pequenas coisas.

Depois de não sei quantos anos, talvez mais de vinte, não tem um animal dentro dessa casa a noite. Todas as poltronas vazias, a cama desocupada, nenhuma bolinha de pelo deitada no meio do caminho pedindo atenção ou comida.

Nada.

Como uma coisa tão pequena, que muitas vezes se escondiam até do nosso canto olho faz falta. Olho para os lugares que eles costumavam ficar e minha memória sobrepõe a imagem que vejo com a que me acostumei a ver e hoje entendo como era necessário eles estarem ali. Como olhar para o bichinho dormindo, desviar meu caminho para fazer um carinho, às vezes literalmente um, aliviava toda a carga de um dia ruim, de um fase difícil.

Hoje estou no vazio, sem ter para onde olhar, sem ter porque desviar o caminho. Apenas o vazio. A TV não consegue fazer companhia, o mundo lá fora não parece ter atrativos.

Mas é assim que vai ser, melhor acostumar.

setembro 28, 2024

Inútil.

Uma das piores sensações que uma posso pode ter é de inutilidade. É de saber o que precisa ser feito, onde fazer e não poder fazer e/ou não saber fazer. È de ver a situação piorando e não conseguir nem parar esse decaimento ou reverter.

É olhar para trás e ver que as ideias que surgiram já no desespero e foram colocadas em prática com resultados mínimos poderiam ter tido algum efeito se tivesse aparecido um pouco antes. É de culpar não por missão, mas por incompetência. 

É um pensamento ou sensação que fica sempre às sombras dos pensamentos, incomodando, alfinetando, lembrando de tudo que não podemos fazer.

Normalmente em textos aqui eu gosto de deixar uma conclusão, esse não vai ter, porque essa sensação nunca vai embora, sempre vai ser lembrado. Nos momentos onde menos esperamos, para estragar um momento bom ou piorar um momento ruim.

agosto 19, 2024

Percepções.

 Uma frase perdida na TV ontem: "a melhor maneira de demonstrar afeto é estando presente".

Com poucas coisas concordo mais. Pena que as pessoas ao meu redor não prestem atenção nesses detalhes, mesmo que para agir em desacordo com eles. Apenas ignoram.

Acharia melhor que entendessem e negassem que apenas não percebam as coisas ao redor como são. Se não entende, acho que gostaria que perguntasse.

Loopping.

O pior é o vazio. Sem tristeza, sem ansiedade sem nada. Só tédio, indiferença, um viver automático como um roteiro chato, já sabendo o que vamos fazer e quais vão ser as reações. Apenas sigo.

Dormir, acordar, trabalho. Um o outro jogo, uma ou outra conversa interessante, cada vez mais rara, um afastamento natural e quase irremediável. Melhor. Sem tempo para mim, refazendo coisas que estavam funcionando e sem motivo são estragadas, gente tentando me convencer que a realidade que vivo não é aquela, gente que não vive essa realidade, que quer entender um filme por um frame desfocado.

Isso cansa, cansa o corpo, cansa o espírito, cansa. O tempo passa rápido mas as coisas não mudam, não param, não acabam. Apenas parece que estou parado olhando um time lapse qualquer do mundo.

Amanhã é um dia normal, já sei o que vou fazer, falar, as brincadeiras que direi e já espero as reações. Déjà vu.

A única graça é fazer parecer que é a primeira vez que estou passando por aquilo e, ó, é uma surpresa.

julho 25, 2024

Apenas Mais Um.

Acredito que todas as pessoas, nas suas infâncias e juventudes, imaginam e anseiam que serão especiais de algum modo. Esperam ser autores de grandes feitos, ou feitos importantes para algumas pessoas e terão seu nome lembrado com carinho e admiração após deixarem esse mundo.

Eu não fui diferente deles.

O problema que para mim as oportunidades de grandes feitos não apareceram, algumas escolhas - das quais não me arrependo - podem ter me impedido de ter tido pessoas para as quais fui importante. Meus erros e ingratidão e deslealdade comigo também entram nessa conta.

O tempo passou e o peso de ser só mais um anônimo na História da Humanidade se mostrou mais real que nunca. Me sinto invisível, esquecível quando não sou útil. Não sou a pessoa que lembram quando querem uma companhia.

Sempre foi assim, mas uma hora a esperança que algo aconteceria e mudaria as coisas dava força para fazer o que é o certo, ignorar os sinais. Não sei se feliz ou infelizmente, essa esperança já não tenho mais. 

Sei que vou continuar a fazer as coisas que acho certas, por ser o certo, mas não por consideração, por obrigação. Fazer o mínimo, o necessário, já que nem isso tenho de volta. Esperar pacientemente para que, em breve, nem esse mínimo eu precise fazer.

julho 23, 2024

Esperas.

Antes era uma ansiedade feliz, uma espera que eu sabia que valia a pena, contava o dia, as horas e não tinha um minuto de dúvida ou insegurança, como uma criança que viu a bicicleta escondida uma semana antes do aniversário.

Hoje a espera continua, mas é diferente, espero a mesma coisa, conto os dias, as horas do mesmo jeito. Mas o que sobra é dúvida e insegurança. Não é uma espera de algo que vai me alegrar, mas uma esperança que pelo menos eu não saia pior que entrei. Uma torcida, cega de fé, que não haja aborrecimento.

Uma torcida cada vez mais inútil.

Por que ainda espero? Inércia, talvez. Mas cada vez espero menos e com mais resignação, tristeza e outros sentimentos menos nobres. Em breve, sei que não vou ter mais pelo que esperar.

Com uma certa tristeza, espero por essa triste notícia boa.

junho 25, 2024

Decisões Inconscientes.

Algumas vezes eu me vejo preso em situações que eu tenho que tomar uma decisão importante sem nem pensar nela no momento. Voltando e analisando depois, com calma, vejo que a decisão já havia sido inconscientemente tomada há muito tempo e a tal situação foi apenas um gatilho para colocá-la em prática.

Entendendo porque aquele caminho foi o escolhido fica fácil seguir em frente e esperar outras oportunidades de decidir com alguma coerência.

O pior é ver as pessoas envolvidas fingindo que não entendem, que está tudo bem e depois, de forma dissimulada, mostrarem surpresa.

Surpresa porquê?

Avisos foram dados, reclamações foram feitas. Quando avisos e reclamações não são mais feitas, na imensa maioria dos casos, não é porque o problema foi resolvido, é porque não ligo mais que quero que se f... 

Agora é só esperar para depois falar "você fez alguma coisa para mudar isso?" e ver a reação.

junho 17, 2024

Não Sou Todo Mundo.

Redes sociais, com ênfase no social, serve para poucas coisas. Ver vídeos e fotos engraçadinhas, saber de alguma notícia do bairro, saber a programação dos bares que eu gosto de frequentar. Consegui transformar meu algoritmo em quase apenas esse tipo de coisa, mas é quase, apenas.

Muitas vezes, em algumas datas, ele acaba me mostrando posts pessoais de pessoas que eu conheço, ou já conheci. Quando acontece isso é quase que inevitável comparar aqueles momentos, fotos fora de contexto, momentos congelados no tempo, com o meu momento.

Fico com uma certa inveja de ver que todo mundo tem tempo, dinheiro, companhia e eu não tenho mais nada disso. Chego até duvidar se um dia eu tive, se alguma vez era por mim, para mim, ou só estava no lugar certo seguindo a onda dos outros. Em segundos a inveja vira tristeza.

Vejo amigos se reunindo, casais comemorando, ou apenas mostrando que têm um tempo de qualidade juntos. Não tenho isso há não sei mais quanto tempo. Faço parte de um casal, acho que ainda faço, tento fazer mas não me sinto parte, enfim, mas não tenho companhia, não estamos juntos em momento nenhum.

Tenho amizades sólidas, firmes, aqueles amigos que ficam muito tempo sem se encontrar e a conversa flui como se tivesse sido interrompida na noite anterior. Mas esse muito tempo sem se reunir está cada vez mais "muito tempo", e o reunir cada vez mais "sem".

Não consigo descobrir o que houve, não consigo entender o que eu possa ter feito ou falado, mas hoje na prática eu não tenho amigos, não sou a metade de um casal.

Eu apenas continuo, estando aqui para eles, como sempre, porque eu sou o amigo, eu sou a companhia, embora não tenha nunca cobrado reciprocidade, ela tem feito falta.

Preciso de amigos novos, preciso de ambientes novos. E, mais que tudo, eu preciso não estar mais disponível para quem some e só se lembra de mim quando precisa. Mas sei que nem uma nem outra coisa irão acontecer.

abril 24, 2024

A Arte de Fingir que está Tudo Bem.

Algumas vezes as pessoas nos levam a mudar o jeito como as vemos e a forma como queremos estar próximos dela. Nos afastam com um tranco que, como o susto, demoramos a ficar equilibrados de novo, com olhos arregalados e piscando incrédulos. Nesse momento temos que tomar um decisão definitiva. Decisão difícil de tomar e mais difícil ainda de manter. O tempo passa e às vezes fingimos esquecer, ainda mais quando tem que haver uma convivência indesejada, mas inevitável. Mas quando o que era para ter sido uma exceção se torna uma regra, a decisão de afastamento intempestiva toma a forma de uma certeza inexpugnável.

O problema já dito anteriormente é quando as circunstâncias não permitem o afastamento, aí vestimos não só uma máscara, mas toda uma fantasia e fingimos que está tudo bem, com comprimentos e sorrisos engessados, com perguntas vazias e assuntos inócuos, sem nunca realmente falar de algo relevante para nós ou para o outro.

O problema começa de verdade quando somos tão bons em fingir que as pessoas não percebem e passam a acreditar que está tudo bem. Costumo repetir duas coisas, a saber: "não é porque eu não estou reclamando que está tudo bem" e "se preocupe quando eu não reclamar mais". Como de costume, ninguém presta atenção. 

Chega um ponto onde não queremos sair do afastamento que conseguimos e continuam nos puxando para dentro, como se ainda quiséssemos saber, como se ainda nos importássemos. Não, não quero saber, não me importo. E se não fosse por outras circunstâncias, já teria cortado definitivamente o assunto desde sua origem e toda vez que ele ameaçasse aparecer.

Já que eu fui afastado, hoje eu só quero ser deixado o mais longe que eu puder.

abril 18, 2024

Lembrança.

Faz 33 anos hoje. Passa rápido, o tempo afasta a sensação mas ela ainda está lá, sempre vai estar. Não que diminua, ou fique menos intensa, ou seja absorvida pelo vazio da ausência, ela ainda está lá tão forte e intensa como ontem. Só que estou mais acostumado.

Todo ano nessa data, pelo menos uma vez por dia, vem a lembrança que fica discretamente escondida os outros 364 dias no ano. Aparece de repente como uma visita inesperada na hora que estamos quase saindo de casa e se instala, se recusando a ir embora.

A lembrança de como eu sabia que um dia aconteceria, que estava próximo e acelerando e mesmo assim eu sempre achei que teria mais tempo, mais uma semana, mas um dia. Tentava ignorar o inevitável, até que o inevitável aconteceu.

Lamento hoje não ter me despedido dignamente, ter deixado para o dia seguinte, o dia seguinte veio, e eu não tinha mais para quem me despedir.

O bom que logo isso que sinto vai embora.
Até ano que vem.

abril 16, 2024

Adeus à distância.

Aquela família que pelo tempo de convivência é quase a sua. Que te acolheu por ser amigo de uma das crianças, se nem te conhecer, mas sempre te tratou como um deles.

Aquele adulto que sempre teve decisões precisas, que foi um dos exemplos mais verdadeiros do que seria ser um bom marido, um bom pai um bom Pastor.

Aquele amigo que estava junto grande parte da infância e me acompanhou na adolescência e na idade adulta. O amigo que eu queria abraçar fisicamente nessa hora difícil, mas por obrigações da vida adulta, não foi possível. 

Tenho certeza que ele sabe o quanto eu gostaria de estar aí, para homenagear seu Velho, abraçar sua mãe e irmã.

O que me conforta é que tenho certeza que ele é a família se sentiram abraçados por todos os que não puderam estar presentes. 

março 15, 2024

Cansado.

Cansado. Muito cansado. Cansado de dar desculpas, cansado de explicar o inexplicável, cansado de mentir só para não fazerem mais perguntas.

Cansado de sempre ser preterido, cansado de sempre ser posto em último plano, cansado de sempre ser esquecido.

Cansado de ser sem ser, cansado da falta de simetria, de reciprocidade. 

Cansado de ser acusado e condenado por algo que eu não fiz e cansado de pagar uma pena injusta dada em um julgamento à revelia. 

Principalmente cansado de ignorar tudo isso numa tentativa vã e inútil de de que isso se torne de presente em um passado que eu possa esquecer. 

Cansado de eu mesmo me ignorar, me negligenciar, me colocar abaixo, me esconder quase com medo de ser atingido.

Cansado de ficar sozinho estando, teoricamente, acompanhado. 

Hora de começar a descansar. 

março 07, 2024

Inconsciente criminoso coletivo.

A violência coletiva no Brasil explodiu. Não é só o caso de assaltantes e criminosos de carreira, mas pessoas ruins que nunca tinham cometido crimes que matam com a certeza da impunidade.

Quando pegos, não demonstram arrependimentos ou culpas. Apenas dão uma desculpa esfarrapada qualquer para a tomada de decisão de atos tão hediondos.

Mães e padrastos assassinando filho com crueldade e descartando o pobre corpinho como lixo. Maridos e mulheres matando seus companheiros por não aceitar uma separação. Esposas envenenando filhos e família do marido por um ciúme doentio... e outros, muitos outros casos hediondos.

O pior é ver que o coletivo da consciência do Afegão Médio não liga mais. É só "oh, meu Deus!" e depois pensa-se em outra coisa.

Mas o que esperar de um povo que acha normal descondenar o maior dos políticos ladrões da história e que oficialmente teve os votos e apoio de metade da população? Decisões assim, tratos assim com o Demônio sempre trazem consequências.

janeiro 18, 2024

Isso é o Futebol.

Primeiro jogo de um, já há muito tempo esvaziado, Campeonato Estadual. Meu time, o atual Campeão da América, o Tricolor Fluminense Football Club, estreia com um time escalado com segundos e terceiros reservas, jogadores que dificilmente atuarão juntos outras vezes, ainda assim fiquei alegre no nosso gol e decepcionado no gol deles.

Mas não é sobre isso, é sobre como um jogo com pouca importância tira o torcedor dos problemas do mundo real, os pessoais, os profissionais, os problemas com o rumo das coisas e nossa atenção e sentimento vão apenas para a chamada peleja. Tudo o mais é posto em segundo plano, todo o resto é suspenso e passa a poder esperar e isso faz muita diferença.

Esses 90 minutos, mais acréscimos, que nos retiram do mundo real, que mexem de maneira única com nossas emoções que variam em segundos de esperança de um ataque para a raiva de um erro bobo para apreensão de um contra-ataque para o alívio de uma bola afastada que nos deixam estressados e no final, a explosão da última chance perdida por burrice inexperiência e por fim a calma e a resignação hoje (mas pode ser uma alegria por uma vitória ou a tristeza por uma derrota) e aos poucos os tons cinzas (re)tomam conta do nosso mundo.

Aquela pausa da vida real acabou e voltamos para a nossa realidade. Pelo menos até a próxima rodada.